Hereditário? Imagina!

Minha avó é tão linda! Uma gracinha, tem 82 anos e é muito ativa. É, confesso, hiperativa. Quer se esconder dela? Vá para a casa dela. É o último lugar em que você a encontrará. Mais fácil achá-la na "ponte rodoviária" entre Belo Horizonte - Uberlândia - Piracicaba - São Paulo - Barbacena. E quem diz que ela fica na casa de quem ela se propôs? A "véia" levanta sete e meia da manhã e vai bater perna, arruma uma missa para ir, uma feira para visitar, um shopping para passear. Quando eu era menor ainda do que sou hoje e as minhas pernas mais curtas, eu não conseguia acompanhá-la. Meus pezinhos doíam, coitados, de tanto que ela andava e fazia a gente andar junto. Hoje em dia estamos no mesmo passo, e as perninhas continuam curtas e ágeis. Agora pensa nessa velha num pós-cirúrgico? Outro dia ela precisou fazer uma pequena intervenção e o médico mandou que ela ficasse de molho uns vinte dias. O molho durou cinco.

Meu pai, filho dela, é outro que também não sossega. Foi com ele que aprendi a ter paixão por carros, e é daí que gosto tanto de acordar cedo no domingo só para cuidar do possante, lavar, passar cera etc. Pois é, está sempre inventando alguma coisa que facilite a nossa vida e procurando o que consertar na casa, e consegue da forma mais barata e simples. É o cara que literalmente exerce a filosofia "soluções práticas para um mundo moderno". Gosta demais de dirigir - com ele eu aprendi a pilotar um carro - e não para em lugar nenhum. Já viveu em vários Estados e voltou para Minas Gerais porque amazonense tem um ritmo que ele não aguenta, mas que também não chega a ser como baiano. No Amazonas ele quase ficou louco, se meu pai tivesse que viver na Bahia, ele certamente enlouqueceria e jogaria uma bomba lá. A única coisa que "para" o velho hoje em dia é a gota que, quando ataca, deixa ele cheio de dores e com as articulações todas inchadas. Mesmo assim, quando ele pensa ter melhorado, ele volta lá para baixo dos carros e vai consertar mangueira, radiador, desempena isso, parafusa aquilo, aperta dali, regula d'acolá... E depois volta para a cama morrendo de dor. Mas não aprende.

Eu, enquanto isso, não sou uma consultora feliz se não tiver ao menos seis ou sete janelas abertas no meu computador. Geralmente fazendo três ou quatro orçamentos, montando dois contratos, escrevendo e-mail e isso tudo ao mesmo tempo em que falo ao telefone e dando satisfação de uma quinta coisa à chefe, que está ao lado. Tive que emprestar o "Mentes inquietas" para ela ler e entender que o normal meu é isso. Não que eu tente justificar meu comportamento diante dela, é que ela não consegue conceber como é que eu consigo fazer trezentas coisas de uma vez e as outras pessoas uma de cada vez. Saldo final: não termino nenhum dos contratos, nenhum dos orçamentos, me enrolo no e-mail e me perco na conversa ao telefone. Isso me frustra profundamente. Aí eu me levanto, dou um passeio pela sala, vou à copa, tomo um café, estalo os dedos e as costas, arranco uns fios de cabelo - tricotilomania, eu tenho - e volto ao posto. Fecho pelo menos cinco janelas e me proponho a terminar uma coisa de cada vez. Aí sai.

Uma colega de trabalho costuma fazer uma comparação muito boa: existe um objeto voador na sala. Todos já perceberam que se trata de algo que voa. A Glaucia, sem olhar, já sabe que é uma borboleta de quatro cores e já está lá no Google procurando à qual família a bendita lepidóptera pertence. Um cérebro hiperativo é assim, processando milhares de coisas ao mesmo tempo e já pensando no que fazer para sobrar mais tempo para outras atividades.

Hoje tive aula de Navegação. Entender o computador de bordo é um pouco complicado, e eu estou prometendo para mim mesma que "amanhã eu estudo". Só que eu não consigo ficar mais do que quinze minutos com a poupança pregada numa cadeira para poder estudar. E eu apanhando do computador de bordo. Amanhã eu estudo. E o amanhã nunca chega, porque eu não consigo estudar. Daí já estou lá processando algo que dê certo. Semana passada, levei as apostilas para a cabeceira do aeroporto e, enquanto os aviões pousavam e decolavam, eu repetia as coisas em voz alta, simulava alguma frase característica da fonia dependendo da posição da aeronave, e assim fui criando nova estratégia para estudar. Essa deu certo. Vamos ver até quando dura.

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2 comentários:

Mirka disse...

Todo TDA estala dedos, é? Que estranho isso, eu e o Rafa estalamos dedos e agora vc. Eu tenho pena do povo que se senta atrás de mim no banco da igreja, eu não paro quieta um minuto. Devo tirar a concentração de todo mundo, mas não tenho culpa, tenho? :p

Luxos de Princesa... disse...

kkkkkkk, tu é a desconvertida que tira a comunhão do povo na igreja, ai mirkita tu é uma comédia, tu falando da tua vozinha lembrei da minha mãe, as peninhas curtas, anda muito vive em rodoviarias sempre com um destito novo, ai quando tu liga pro parente em si que a doutora disse que estraria, ele te da outro telefone de parente e assim por diante até chegar na veinha, doce de cocô hahahahaha.
O marida que tem essa mania de fazer mil coisas ao mesmo tempo como nós duas, mais ele nunca consegui finalizar uma, só se fixa em um trabalho só, agora eu sou aloka, se estiver sem funcionária em casa, lavo banheiro, enquanto lavo cozinha, roupa enquanto pego o quarto, isso erdei da minha mãe sabe que tem horas que parece que vai dar um titil na cebeça de tanta agitação?
E também abro 20 bas na internet de uma vez, sim 20 ain quando começo ficar doida fecho todas e desligo o computador.
E tem outra comigo tudo tem que ser palenjado antes, OMG tem hora que acho que sou anormal:/

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Nossa bobagem de cada dia:

A minha bobagem é sem ritalina mesmo, porque sóbria é mais gostoso de se fazer as coisas. Por isso resolvi começar o meu dia com uma oração.

“Pai nosso que está nos céu, meu pai não é piloto, ele é mecânico. Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Complicado isso, fica parecendo aquelas conquistas medievais, um rei invadindo o reino do outro, castelo, dragão, princesa... Onde eu estava mesmo? Ah, sim, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. É, piloto quando está em terra, fala de avião, quando está em vôo fala de mulher. Bobagem danada, gente. Eu queria a uma hora dessa estar em comando para ver na prática mesmo o nível de cruzeiro. Por isso que atleticano nunca é piloto, para não ter que se manter em nível de Cruzeiro. A propósito, o jogo do América foi ótimo, pena que o juiz tenha roubado tanto. Tadinho do Mequinha, tão injustiçado! Nossa, viajei. O pão nosso de cada dia nos dai hoje... Putz! Lembrei que tenho que pagar o seu Manoel da padaria! Ah, não faz mal, amanhã eu vou lá e aproveito para fazer a unha com a dona Judite. Só que os esmaltes dela estão ruins, vou sugerir comprar uns novos, tem umas cores bonitas que saíram estes dias, última moda. Ah... ahmmm... é... ta. Amém.”

Texto por Glaucia Piazzi

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