Do futebol, cinema e a camisa rosa (e que não tem nada a ver com Atlético!)

Já faz uns vinte dias que estou literalmente numa crise. Antigamente eu era mais jovem (óbvio) e tinha menos coisa pra fazer. Agora tou ficando mais velha, adquirindo mais responsabilidades e, confesso, estou ficando louca. Não que eu não goste do que eu faço, mas não consigo estabelecer uma ordem para fazer as coisas e estou me sentindo mal. Uma inútil.

[Para escrever este parágrafo interrompi a atividade de diagramação de um relatório que estava fazendo para a minha chefe. Voltei a escrever após ter lixado as unhas e lido um parágrafo de "O zelador de almas", livro excelente, depois recomendo direito. Voltei ao relatório, fechei o Gmail e estou escrevendo aqui de novo.]

Não se tem TDAH. Se é TDAH e se sofre o TDAH. É uma...

[Voltei para o relatório dez segundos. Levantei e fui tomar café.]

...uma o quê, mesmo?

Ah, não importa. Fato é que eu estou me sentindo mal porque não estou conseguindo honrar com meus compromissos. A prova cabal de que TDAH é o cara que marca duzentos compromissos para o mesmo horário e depois se vê em bundas para cumprir com todos eles sou eu. Fiquei de ir com uma turma para Divinópolis ver o jogo do América (sim, a torcida do América existe, viu?) x Guarani, ao mesmo tempo em que tinha ensaio do coral em Belo Horizonte. Resultado: fui ao jogo de vôlei do Sada/Cruzeiro em Contagem. Esqueci completamente os outros dois.

[Interrompi de novo porque me lembrei que um cliente me pediu um e-mail.]

Ontem eu escrevi um e-mail para o maestro, me desculpando com ele e dizendo que prefiro não fazer as coisas a fazê-las mal feitas. Não vou participar dos ensaios este ano, já que furei uma vez e fiquei morrendo de vergonha por simplesmente ter atropelado os compromissos e não conseguir cumprir nenhum. O @AlmaFrenetica, lá no Twitter, falou um negócio muito certo: vocês não têm ideia da devastação que isso causa na vida de uma pessoa.

Tem hora que eu me sinto um gênio incompreendido: lembram quando eu comecei a estudar espanhol? Fiquei fluente em oito meses! E a prática p'ra valer foi encarar o Chile. Deu certo, ninguém falava que eu era brasileira, tirei até o sotaque da língua portuguesa. Sou inteligente p'ra caramba, sem falsa modéstia, mas de que adianta isso tudo se não consigo usar o cérebro direito? Por isso que eu 'tou pobre e a pé até hoje! Daí que eu tenho milhares de ideias, sou uma empreendedora nata, mas não tenho dinheiro - e nem concentração - suficiente para investir em nada do que imagino. E tome-lhe cobrança, porque já escutei de um cara uma vez que se ele tivesse meu cérebro estaria rico, e que eu continuo pobre porque quero.

Mudando de assunto, eu sou americana, né, acho que já falei isso aqui. Falei sim, lá na oração do TDAH. Naquele dia eu tinha acabado de vir do Mineirão, América 2 x 3 Cruzeiro. Meu time perdeu, caiu uma p*ta chuva de granizo, mas fui feliz para casa porque descobri que tenho um prazer imenso em ir ao estádio não só porque não consigo ouvir jogo pelo rádio (nem pela televisão!), mas sim porque posso correr de um lado para outro na arquibancada para dispender energia. Além, claro, de cantar muito o hino do time e de morrer de rir com o mascote Coelhão, que naquele dia chutava e nadava nas poças de lama que se formaram com a chuva.

Aí nessa de futebol, me lembro das aulas de educação física do ensino fundamental. Eu era super requisitada para os exercícios de matemática, né? Sempre tive facilidade com exatas, mas na hora de jogar, quem disse que alguém me queria no time? Boa brasileira que sou, adoro o esporte, sei o que é impedimento, haha, mas por ter um problema danado de lateralidade nunca consegui jogar direito, não conseguia decidir com que perna chutar, com que força chutar e sempre mandava para fora do gol ou direitinho na mão da goleira - ou do goleiro, eu era um perfeito pivete quando criança. Um completo desastre. O mais incrível é que consegui tirar carteira de motorista, mesmo confundindo até hoje direita e esquerda.

Foi no jogo de vôlei do Sada/Cruzeiro de sábado que eu fui prestar atenção em qual era o meu problema com o futebol além da lateralidade. O TDAH nunca me permitiu acompanhar uma partida inteira do esporte nos gramados. Como eu nunca consegui acompanhar, eu não tinha time. Com sete anos, eu não sabia sequer o que significavam as palavras "Cruzeiro" e "Atlético", tive que perguntar à minha mãe, depois de responder muito "sei lá" aos meus colegas de escola. Claro que depois eu até dizia que era um ou outro, mas sempre sabendo já o time do interlocutor, para não dar briga, já que presenciei algumas vezes embates homéricos entre vizinhos doidos por futebol. Nunca me identifiquei nem com um e nem com o outro. Sei lá. Não me chamavam a atenção.

Justamente por não gostar de briga é que foi só com dezesseis anos que eu me identifiquei com o Ameriquinha, vi sua ascensão à série A do campeonato brasileiro de 1997 e hoje em dia 'tá lá declarada no meu Twitter a minha paixão alviverde. Ir para o meio da Avacoelhada e berrar "Coeeeeelhooooooo" por noventa minutos não tem preço! Detalhe: minha família inteira é cruzeirense apaixonada, como bons italianos que são, já acompanhei várias vezes os jogos do Cruzeiro com eles e isso justifica o fato de eu ter ido ao jogo de vôlei. Fui a convite das minhas lindas e amadas irmãs @trenchique e @GiuliaPiazzi. Ainda assim, para eu conseguir assistir a um jogo inteiro é muito sacrifício. Ficar diante da televisão por mais de dez minutos é pedir pra morrer, ainda que o jogo esteja emocionante e o Ameriquinha esteja fazendo algo bacana como um 2 x 1 de virada em cima do Atlético (tinha que comentar, não podia deixar passar!). Tuitei o jogo inteiro.

Aí quando eu me lembrei que tinha combinado de ir a Divinópolis, estava em cima da hora, já estava saindo de casa para o ginásio, ficou tarde e a única coisa que eu pude fazer foi acompanhar o jogo pelo celular. Levei minha bandeira do Coelho, óbvio, e pus o @PCAlmeida, notório cruzeirense do qual sou muito fã, para acompanhar o jogo para mim e me mandar mensagem a cada gol. Era justo, né, afinal eu 'tava vendo jogo do time dele, ahah! =D E a cada gol do Mequinha eu agitei minha bandeira. América 4 x 2 Guarani de Divinópolis.

Aonde eu queria chegar com essa história toda: torcida de vôlei é completamente diferente da de futebol. E o lugar também. Não dá para correr nas arquibancadas como no futebol e, se não fossem as paradas técnicas para minhas irmãs e eu fazermos bagunça, na metade do segundo set eu já teria ficado louca, apesar de amar vôlei também. Torci para aquele jogo terminar logo em 3 x 0 - e terminou mesmo, bonita vitória em cima do Soya/Blumenau/Martplus (o nome é puro patrocínio, né? ahaha). Então percebi porque demorei para me identificar com um time e também nessa descobri porque não gosto de cinema: não consigo acompanhar, me perco e me sinto a maior burra quando não percebo o segredo. Isso mesmo, não saquei "O Sexto Sentido" enquanto o filme não terminou. Idem para "O Código da Vinci". Só consegui ver o primeiro filme da saga "O Senhor dos Anéis": era tanto personagem que eu simplesmente dormi no cinema, mesmo com o @VilasBoasMSC me explicando boa parte do filme. Já "A Bruxa de Blair" eu não entendi mesmo. A última vez que fui ao cinema vi "O Bem Amado", por já ter lido o livro e adorar literatura brasileira. No mais, não lembro nome de filme.

[Já mudei o título deste post três vezes.]

Então pedi ajuda. O déficit de atenção 'tá cada hora pior. Marquei consulta com o Dr. Márcio Candiani. Enquanto isso, minhas irmãs e o PC têm me ajudado muito. Elas me ajudaram a fazer loucurinhas para passar o tempo, tipo fazer coreografias de arquibancada para eu não me estressar durante o jogo. O PC é um anjo, e me ajuda a acompanhar o futebol, saber quem é quem, comentar o assunto, analisar uma partida, ter prazer e não me estressar em ver um jogo inteiro. Acompanho o blog dele porque gosto muito do que ele escreve, mas comentar mesmo eu comento é lá no do @flavio1177, né?

No trabalho, então, nem se fala. Segunda-feira é meu dia de vir de verde. O América ganha, que lindo, mas eu continuo aérea. Tem hora que o povo fala as coisas comigo que eu tenho que pedir uma instrução de cada vez. Simplesmente não consigo dar sequência numa atividade e não consigo me concentrar no que me dizem. Não termino nada e não consigo prestar atenção em nada.

[Hiperfoco mode = on. Vários parágrafos sem interrupção.]

Mas a melhor do dia, e a que fecha este post, foi de hoje de manhã. Cheguei aqui no escritório e duas meninas estavam de camisa rosa. Eu estou de camisa lilás. Uma das gerentes vira para mim e diz: "ué, Glaucia, por que você está de lilás? O combinado hoje era rosa!" Aí eu pensei "pronto! Eu não escutei essa instrução, não pesquei a brincadeira e acabei estragando por causa do meu TDAH." Depois percebi que era um trote dela e que foi só coincidência as meninas estarem de rosa hoje. Mas eu quase morri, confesso.

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Nossa bobagem de cada dia:

A minha bobagem é sem ritalina mesmo, porque sóbria é mais gostoso de se fazer as coisas. Por isso resolvi começar o meu dia com uma oração.

“Pai nosso que está nos céu, meu pai não é piloto, ele é mecânico. Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Complicado isso, fica parecendo aquelas conquistas medievais, um rei invadindo o reino do outro, castelo, dragão, princesa... Onde eu estava mesmo? Ah, sim, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. É, piloto quando está em terra, fala de avião, quando está em vôo fala de mulher. Bobagem danada, gente. Eu queria a uma hora dessa estar em comando para ver na prática mesmo o nível de cruzeiro. Por isso que atleticano nunca é piloto, para não ter que se manter em nível de Cruzeiro. A propósito, o jogo do América foi ótimo, pena que o juiz tenha roubado tanto. Tadinho do Mequinha, tão injustiçado! Nossa, viajei. O pão nosso de cada dia nos dai hoje... Putz! Lembrei que tenho que pagar o seu Manoel da padaria! Ah, não faz mal, amanhã eu vou lá e aproveito para fazer a unha com a dona Judite. Só que os esmaltes dela estão ruins, vou sugerir comprar uns novos, tem umas cores bonitas que saíram estes dias, última moda. Ah... ahmmm... é... ta. Amém.”

Texto por Glaucia Piazzi

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