10 mitos sobre mim

1. A Glaucia não gosta de crianças.
Ok. Toda vez que eu vejo uma criança eu vou lá e jogo a pobrezinha debaixo do primeiro ônibus que passar na rua. Francamente, gente, a vida inteira gostei de criança, até porque eu fui uma! A diferença é que eu não trato nenhuma com voz de bebezinho, o que faz com que aquelas mimadas tenham uma primeira impressão de que eu sou brava. Até hoje nenhuma criança sequer me chamou de chata e o que eu mais gosto de ouvir delas é: "gosto de conversar com você porque você não me trata igual neném." O que eu nunca gostei foi de realizar terapia fonoaudiológica com crianças, porque, cá pra nós, na cabecinha muito ativa que elas têm, 40 minutos são uma eternidade e é tudo um saco. Gosto sim, e muito, e todas elas me adoram.

2. A Glaucia não gosta de animais.
Pobrezinhos, têm o mesmo destino das crianças. Palhaçada! O fato de eu não ter um animal de estimação não significa que eu não goste. Ao contrário. Significa que eu gosto tanto que não seria justo ter um bichinho sendo que não tenho tempo para cuidar. A vida inteira tive gato, cachorro e periquito. Minha mãe sempre consumiu com os quatro patas porque eu me empolgava no começo, catava pulguinhas e tudo o mais, mas minha paciência durava só doze dias e acabava que ela que cuidava dos bichinhos. Porém que fique bem claro que ela sempre doou a quem pudesse cuidar deles, pois na minha casa nem bem-vindo é quem faz maldade com animais. No pós-ritalina eu seria perfeitamente capaz de ter um bichinho. Se vier, será bem-vindo.

3. A Glaucia não gosta de plantas.
Ao contrário do que parece, gosto principalmente de flores e sou fascinada por helicônias. Infelizmente na minha casa não tem um espaço adequado para elas, mas me viro como posso: tenho duas orquídeas que amarrei no tronco da mangueira e um pé de jabuticaba bonsai, presente de uma amiga, e que cuido como se fosse um filho.

4. A Glaucia só sai de casa para frequentar bibliotecas e cafés cheios desses intelectuais.
Sim, eu gosto, mas biblioteca eu tenho em casa, ler eu leio lá ou no ônibus. Café também é um hábito maravilhoso que tenho, amo aquela xícara grande bem cheia e com desenhos na espuma. Não sou "intelectual" por gostar de ler e de escrever. Tenho amigos "normais" e garanto que é mais fácil me achar num boteco ou no estádio que num desses cafés. Ademais, eu converso sobre todos os assuntos. Não me exclua por achar que eu sou nerd e que só falo sobre física quântica, engenharia, linguística ou teoria da conspiração do futebol. Não tenha medo de me convidar para eventos: simplesmente me adapto à roda em que me encontrar.

5. A Glaucia não escuta nada que não seja ópera.
Eu escuto qualquer coisa que faça bem aos meus ouvidos e ao meu coração. Pode ser ópera, samba, jazz, rock, eletrônica. Também gosto de dançar, sabia? Sou iniciante em frevo, uma negação em tango, e me divirto assim mesmo. Isto quer dizer que, se não fizer bem nem aos meus ouvidos, não darei nem atenção e não pararei para analisar. Exemplo clássico: funk.

6. A Glaucia é insensível.
Devo ser mesmo. Só porque sou sincera, clara, objetiva, direta e às vezes até tosca nas minhas declarações. O problema é que quem não convive comigo está acostumado a ouvir frases maquiadas e palavras escolhidas com as pontas dos dedos. Eu não maqueio palavras para falar com você. Vou falar o que você estiver precisando ouvir, justamente por ser bastante sensível ao seu problema. Provavelmente já passei pelo mesmo, te entendo e, principalmente, não te julgo. Depois da ritalina, minha capacidade de ouvir ficou ainda mais aguçada. Pode ter certeza de que, embora eu não meça muito as palavras para falar, aqui você tem uma boa amiga. Convivo com muitos homens - engenharia mecânica e aviação, né - e isso não me tornou insensível, ao contrário, me fez conhecê-los mais a fundo e prever seu comportamento. Mas como a minha tosquice sempre é mal interpretada, agora eu fico assistindo de camarote às minhas amigas esperando o príncipe encantado num cavalo branco, chutando o príncipe e morrendo por causa do cavalo. E olha que avisei.

7. A Glaucia é desorganizada.
Minha mesa do escritório faz um ciclo da direita para a esquerda, de coisas a fazer, de coisas sendo executadas e de coisas já resolvidas. Anoto tudo o que eu gasto e tenho uma planilha, na qual constam até os dez centavos que gastei com balinha. A ritalina foi a responsável pela queda de 50% do valor das minhas dívidas, pois passei a ter controle sobre meu salário e aprendi a planejar para pagar tudo. Tenho que saber com o que contar.

8. A Glaucia não é ciumenta e, por isso, desligada.
Sinto ciúme sim, como toda pessoa, mas não sou doente. Confio na pessoa que está comigo e o mínimo que espero é reciprocidade. Dar provas públicas de amor, atender o celular do namorado, dar escândalo porque ele conversou com alguma mulher, melação no twitter e no facebook - leia-se "marcar território" - definitivamente são atitudes que não combinam comigo: sou muito mais ganhar um bom-dia via SMS. Sou romântica, mando letra de música por e-mail, me arrepio quando chego perto, observo-o enquanto ele faz a barba ou escova os dentes. É, meu amigo, eu cuido sim, não sou nem um pouco desligada. Amo com toda a intensidade, apenas não torno isso público.

9. A Glaucia tem raiva de ser brasileira.
Conhecer outras culturas e falar outros idiomas não me faz menos brasileira que você. É justamente por amar o meu país que às vezes eu tenho tanta raiva dele. É como uma criança que faz travessura e a mãe dá umas palmadas. Dói, mas passa.

10. A Glaucia é louca.

Se ir ao psiquiatra é loucura, então eu fugi do hospício há muito tempo. Sou só hiperativa, desatenta e impulsiva e tomo ritalina. É tarja preta sim, mas é justamente o que me acalma e me permite fazer as coisas uma de cada vez, já que a paciência agora vem em doses de 10 mg. Eu também não fico preocupada se os outros estão pensando bem ou mal de mim, ou se estão falando de mim. Faço o que tenho vontade, sem agir por impulso. Ao que você chama "loucura" é só autenticidade. ;-)

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Um povo heroico, um brado retumbante

Uma alma quieta demais não vai muito longe. Fica presa a convenções sociais e ao que os outros vão pensar (quem mora em Minas Gerais então, sabe muito bem o que é esse sentimento). Sem generalizações, por favor. Vê se dá para entender o que eu tou falando: disciplina, organização e temperamento tranquilo nada têm a ver com criatividade. Um cara pode ter a vida toda bagunçada e ser desorganizado e ser um grande artista ou um cara que arranja soluções práticas para tudo (sou eu). Ou pode ser bagunceiro e ser um fiasco para pensar. Ou pode ser quietinho, organizadíssimo e artista, ou também tão metódico que se torna um chato e, sem criatividade ainda, piorou. Em suma, a gente encontra por aí combinações e combinações de características, e é isso que faz de cada pessoa única.

Quando eu digo "quieta demais" estou falando sobre pessoas que não arriscam porque têm medo. Medo de sofrer, medo de perder, medo de ficar pobre, medo de ficar ainda mais pobre... Medo é algo que parece não fazer parte do vocabulário do TDAH. Já falei sobre medo aqui, mas tem hora que a gente é até um povo heroico demais, com um brado retumbante no coração, louco para sair e explodir. A gente se arrisca a morrer, se arrisca para brigar, se arrisca para provar que é bom em algo... Para depois a Santa Rita do Metilfenidato nos dizer que não é nada daquilo.

Sabe uma coisa que descobri depois de tantos anos de que eu não gostava, mas me esforcei para gostar? Sangue e gente morta. Não, calma, não sou assassina e muito menos necrófila. O negócio é o seguinte: quando fazia Química, era estagiária do IML no departamento de toxicologia, daí convivia com defuntos, partes de defuntos, sangue, secreções, órgãos... Era destemida! Mas ainda assim eu sentia algo estranho toda vez que ia lá, um frio na barriga. De toda forma, eu gostava do que fazia. Ao final do curso, surtei e disse que não ia mexer com Química nunca mais na minha vida - estava estressada do curso e queria terminar logo, quase desisti faltando um bimestre para acabar. Daí fiz vestibular para Fonoaudiologia.

Ok, lá vamos nós para os defuntos novamente, já que tem aula de anatomia. De novo a mesma sensação. Gostei do curso, surtei no segundo período, surtei de novo no quinto, queria desistir também, cliniquei por quatro anos, e hoje a Fonoaudiologia está enterrada para mim. Não quero voltar mais. Mexer com vivo também é complicado, mas isso não vem ao caso agora.

Aonde eu quero chegar: hoje em dia não me apraz de forma alguma ver gente morta, apesar de ter visto de tudo quanto foi jeito. Na época do IML fiquei fria e a morte passou a ser algo corriqueiro. Agora tenho pavor só de ver uma poça de sangue: fico imaginando logo uma tragédia sem precedentes e não quero nem olhar. Não tenho essa mulherzice de desmaiar, mas ficaria certamente impressionada por um bom tempo. Sabe mineiro no trânsito? Ele tem que parar para ver. Mas ver o quê? Sei lá, ele tem que ver. O ser humano é mórbido por natureza. E sua morbidez faz a lentidão do trânsito: toda vez que tem acidente, acho que eu sou a única do ônibus que não se levanta para contemplar a cena bizarra. Como o motorista também diminui a marcha para ver, olha a confusão que ele causa atrás de si!

Eu descobri muita coisa sobre mim porque foi agora que parei para me conhecer. Antes não tinha tempo e fazia tudo o que dava na telha só para mostrar que eu era capaz. Mas depois eu percebi que estava mineira demais, preocupada com o que os outros estariam pensando a meu respeito. Desci do pedestal de inteligente ao extremo - eu tenho uma inteligência normal, a diferença é que a enxurrada de pensamentos e ideias junto com a impulsividade compunham a fórmula explosiva para todo mundo achar que eu era um gênio - e passei a ser uma pessoa normal. As pessoas passaram a esperar menos de mim porque eu passei a dar menos de mim para elas, como uma forma de satisfação, e com isso aprendi a a aceitar melhor meus erros e minhas limitações.

Desde os doze anos dou aula de matemática. E é isso mesmo que eu tenho que fazer: trabalhar com exatas, o que sempre foi minha paixão e lá atrás eu joguei fora por causa de um surto de querer abandonar tudo. Falei que nunca mais ia mexer com Química, mas ledo engano... Engenharia Mecânica, aqui me tens de regresso! Ano que vem eu 'tou voltando. ;-)

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Cadê a TV de LCD que estava aqui?*

*Texto escrito por Grace Piazzi

Não posso deixar de começar esta coluna sem falar da felicidade que estou sentindo. Por dois motivos: o primeiro, pelo espaço gentilmente cedido pela Glaucia (minha irmã) e pela Mirka (com a qual não tenho contato, mas que há um tempo, muito gentilmente me recebeu em sua casa). O segundo, por ter conseguido me libertar de mim mesma. Como assim? 

Sempre desconfiei de que não fosse muito normal. Apesar do meu corpo calmo, meu jeito pacato, minha mente sempre pareceu um turbilhão. Um turbilhão de ideias, de coisas a fazer e de constantes autorrecriminações no fim do dia, por conta das coisas que me havia me proposto a fazer e que não passavam de propostas. Em suma, o significado literal da expressão “brainstorming”

“Em meio a tantas coisas a fazer, por onde começar? Pela mais fácil, óbvio! Mas a mais fácil parece tão complicada. Vejamos a próxima... Ih, não consigo me concentrar. Peraí, deixa eu voltar na anterior, acho que vai dar. Não, não foi do jeito que eu pensei. Vou pra próxima de novo e depois eu volto.” E nesse vai e vem, o sono batia e já era hora de deitar. E deitava. “Mas cadê o sono que estava aqui? Estou tão cansada! Puxa, não consegui fazer nada hoje, mas amanhã, sem falta, eu vou fazer!” Pensando nessas coisas, mais uma hora se passava, até ser vencida pelo cansaço e apagar. Quando eu dava sorte, conseguia dormir uma noite inteira, mas quase sempre, acordava lá pelas tantas, sendo assombrada pelos mesmos pensamentos. E lá ia mais uma hora pra pegar no sono de novo... Essa era minha vida, há pouco menos de uma semana. 

Alguns me perguntam como eu nunca desconfiei de nada, enquanto estava no ensino fundamental e se eu não tirava notas baixas, por causa da dificuldade de concentração. A resposta é não. “Mas por quê? Quando você sentava pra estudar pras provas, não dava um certo desespero?” Novamente, a resposta é não. “Mas por quê?” Simplesmente, por que eu não sentava pra estudar. Não precisava. Quando sentava pra isso, lia (com uma certa angústia) rapidamente o que precisava e pronto! Já estava tudo estudado. Mãezinha, agradeça a Deus todos os dias pelo fato de sua filha aqui ter nascido com QI acima da média! Caso contrário, o estrago teria sido muito maior. Ou melhor, teria havido estragos. 

Comecei a sentir certa dificuldade quando passei para o ensino médio. Achei que fosse normal, já que o nível de exigência intelectual tinha aumentado e as disciplinas já não eram tão simples, além de a instituição ser o CEFET-MG (sim, eu sobrevivi a ele). Constantemente, eu me pegava sonhando acordada na sala de aula e, quando voltava à realidade, ainda dava tempo de aprender um pouquinho. As notas declinaram, mas não cheguei ao ponto de ficar em recuperação. Novamente, o QI acima da média estava lá pra me ajudar. Entretanto, tinha uma coisa que começava a me incomodar: a leitura. A professora de literatura passava as referências que a gente precisava ler para fazer as provas, ou estudos dirigidos em sala. Eu levava semanas pra ler um livro pequeno. Isso quando chegava a concluir a leitura. A cada duas linhas lidas, era uma viagem ao mundo da lua. Pra não ficar pra trás, os preguiçosos da turma sempre arrumavam um resuminho das obras. E assim eu me virava. Até tirei notas muito boas, mas a consciência pesava. 

Não satisfeita, inventei de fazer um curso técnico. Eu sempre soube que não atuaria na área, mas fui lá, saber qual é a desse negócio. Escolhi um curso que julgava tranqüilo: Química. É, eu tinha facilidade com a disciplina e imaginei que no curso não seria diferente. Engano total. Minhas notas declinaram ainda mais, não consegui acompanhar o ritmo da turma até que... “Mãe, tomei pau!” “Como assim, Grace? Você não faz mais nada na vida além de estudar! Faça-me o favor, né?” Repeti um módulo do curso. Aos trancos e barrancos, consegui conclui-lo. Mas o sentimento de frustração foi tão grande, que eu não quis saber de seguir carreira nessa área. 

Poucos meses antes de acabar o curso, fui chamada pra trabalhar num órgão do Estado de Minas Gerais, por meio de um concurso para o qual eu não havia estudado uma linha sequer. Como? Não sei. Dizem as más línguas que o tal concurso, para o meu cargo, rendeu 217 candidatos por vaga. Se era verdade, eu não sei. Já faz 8 anos que trabalho para o Estado e ninguém ainda me respondeu... O fato é que, quando o comentário chegou até mim, fiquei calada, mas pensei: “Ainda tenho salvação nessa vida!” Aí, decidi que era hora de fazer vestibular. Mas quem disse que seria fácil? Eu achei que seria. Outro engano. 

Três tentativas depois... Ah, finalmente! Passei na UFMG. Ufa, agora minha vida estaria totalmente resolvida. E não é que eu me enganei outra vez? Aí sim, o inferno se instaurou na minha vida. A cada aula, o quadro negro se transformava numa enorme TV de LCD, onde eu via toda minha vida, as coisas que eu tinha que fazer, as que eu não fiz, as que deveria ter feito... Ou seja, aquelas mesmas coisas que me assombravam na hora de dormir e mais algumas. Resultado: exame especial nos três primeiros períodos. Passei em várias disciplinas com nota mínima e sempre com aquela sensação de “sou burra e não consigo acompanhar nada!”. E novamente, aos trancos e barrancos, cheguei ao sexto / sétimo períodos (sim, sou irregular) de Terapia Ocupacional. Não sei como ainda, mas cheguei. 

Curiosamente, essa chegada me jogou contra mim mesma. Vou explicar. Cursei semestre passado, uma disciplina chamada “Terapia Ocupacional Aplicada ao Desenvolvimento B”, que se divide em dois módulos: no primeiro, estudamos crianças com TDAH e no segundo, crianças com paralisia cerebral. Acontece que no primeiro módulo, o enfoque dado pela professora foi nas crianças com TDAH predominantemente hiperativas. Ah, isso não era novidade pra mim. A Glaucia tem o tipo combinado de TDAH e, baseada no comportamento dela, eu soube responder tanta coisa (sim, porque eu achava que a doida era só ela, ahahaha...). Aí a coisa foi apertando. O semestre parecia não ter fim. Tanta coisa pra ler e, pra variar, eu nunca conseguia ler tudo. A leitura ia até a metade, isso quando lia alguma coisa. A cada aula, era uma angústia. E lá estava a TV de LCD no quadro negro mais uma vez! Resultado: mais um exame especial. Não passei e estou repetindo a disciplina. Fiquei extremamente decepcionada, mas mal sabia eu que essa repetência mudaria minha vida. 

Passada a frustração, já de férias da faculdade e com mais tempo pra me dedicar às pessoas queridas, a Glaucia e eu conversamos a respeito do problema que eu achava que era só dela e das coisas boas que ela havia conquistado só com o uso da ritalina. Obviamente, fiquei muito feliz por ela e isso me despertou um interesse pelo TDAH que eu não tinha tido ao cursar a tal disciplina. Afinal, quem é esse desconhecido que as pessoas tanto usam pra rotular criancinhas levadas? Após inúmeras leituras (forçadas, claro), algo me chamou a atenção: o subtipo de TDAH desatento. Achei tudo muito estranho, afinal, parecia que os textos relacionados a esse subtipo estavam falando de mim. Ainda assim, resisti um pouco e achei que era mais uma das minhas constantes viagens ao mundo da lua. 

E começou mais um semestre! Ah, desta vez vai ser tudo diferente! Vou ler tudo o que os professores mandarem e parar de fazer as coisas aos 47 minutos do segundo tempo. Comecei com o maior pique, que durou incríveis 12 dias! Dali em diante, lá estava eu fazendo tudo de novo. A angústia começou a tomar conta e, já não aguentando mais, liguei desesperada pra Glau: “Me dá o telefone desse psiquiatra seu, pelo amor de Deus!” Marquei minha consulta, fui lá e não deu outra: TDAH predominantemente desatento. Uma mistura de decepção e felicidade tomou conta de mim. Levei um susto, quando vi o médico escrevendo a receita: RITALINA. “Mas eu preciso disso, doutor?”. Ele sorriu e disse: “Quem vai me dizer isso é você!” “Tudo bem então, vamos ver como é isso. Se funcionou pra Glaucia, talvez funcione para mim também.” 

Gente, se milagre existe, ele se chama ritalina! No primeiro dia, eu já senti a diferença. Assisti a uma aula inteira sem viajar (a TV de LCD sumiu), consegui dar sequência a todos os documentos que estavam parados na minha mesa de trabalho, por falta de saber por onde começar, parei de levantar da cadeira a cada cinco minutos e andar sem rumo pelos corredores do meu local de trabalho, li quatro artigos científicos, um atrás do outro, sem nem piscar e um livro inteiro numa tarde de domingo. Além disso, estou dormindo uma noite inteira, sem a menor dificuldade. Aquela sensação de frustração em saber que o dia passou e eu não fiz nada sumiu. 

Bom, esse foi só um resumo da minha vida acadêmica. A minha ideia era falar também do meu comportamento no dia a dia, mas este texto teria o triplo do tamanho e achei melhor deixar para uma próxima postagem. Só o que eu sei é que em pouco menos de uma semana me transformei em outra pessoa e essa outra pessoa é muito melhor! Não preciso mais ficar sob a máscara do ‘tipo sou foda’ pra esconder meu problema. Devo admitir, a sensação de ser normal é muito boa. 

Retorno ao psiquiatra daqui a um mês! 

* * * * *

Comentário da Glaucia Piazzi: 

Bem-vinda ao time dos abençoados devotos de Santa Rita do Metilfenidato! Você vai obter resultados incríveis com o uso correto da ritalina. Boa sorte!

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E o medo de ter medo de ter medo...


Resolvi escrever este post para desfazer de vez a ideia errada que o povo faz de medicamentos tarja preta e do psiquiatra.

Para começar: psiquiatra não é "médico de doido". Até porque a linha entre a sanidade e a loucura é muito tênue, depende do momento que você vive, como as coisas à sua volta estão organizadas, como a sua família se relaciona, como você se relaciona com o seu par, se você gosta ou não do seu trabalho. Aliás, o que é loucura? Povo chama cada coisa de "loucura"... Aposto que nunca leram o DSM-IV! Penso que o psiquiatra (de psiquê = mente; iatros = médico) é um profissional que deveria ser visitado por todo mundo pelo menos uma vez na vida, ainda mais se você encontra um que te escute. E hoje em dia é o que todo mundo anda precisando, vamos combinar.

Não, meu querido. O psiquiatra não vai prescrever medicamento para a sua tristeza, e sim para uma depressão. Tristeza é momento, passa; depressão sim, é doença, e precisa ser tratada convenientemente, desde que diagnosticada. E isso demanda tempo e observação.

O psiquiatra não vai prescrever um medicamento para os seus altos e baixos na vida. Fases passam, o que é bem diferente de ser bipolar. Não pense que porque você está vivendo um momento ruim e outro muito bom em seguida você tem alguma doença. A bipolaridade necessita investigação, como todos os outros transtornos da mente. Frustre-se ao sair do consultório se for só fase. Psiquiatra não prescreve remédio à revelia.

Ah, você está agitado e desconcentrado? Virou moda dizer que se é TDAH. Hoje em dia, qualquer criança encapetada já é automaticamente "diagnosticada" pela professora e pelos tios/primos/avós/parentes chatos que acham que podem dar palpite na educação do filho alheio. Primeiro: é fato que a maioria esmagadora dos pedagogos/professores é mal preparada para identificar um possível transtorno e encaminhar para o profissional correto. Segundo: esse mesmo professor e os parentes chatos já rotulam a criança naturalmente mais conversada e dinâmica como TDAH. Terceiro: como está na moda dar "a droga da obediência", que é como atualmente apelidam a ritalina, fica fácil controlar uma criança a quem não se quer educar. Muitos pais delegam à escola a tarefa de educar, e a escola não tem que cumprir esse papel. A criança é um ser humano em formação, não um tamagochi que, quando acabar a pilha, é só comprar outra e boa. Morreu, compra outro; não quer cuidar, dá para o irmãozinho menor tomar conta. Vira um jogo de empurra danado, daí as crianças de hoje em dia não conhecem limite e viram essas "coisas" que conhecemos por aí. Lamentável.

Ritalina deve ser prescrita para quem realmente tem TDAH. Quem é verdadeiramente prejudicado não por uma falta de atenção momentânea devido a um estresse cotidiano, e sim por uma incapacidade de dar sequência numa atividade. É para quem não consegue ficar quieto por um minuto não por ser dinâmico, mas quando essa inquietude atinge todos à sua volta. É para quem faz tudo e nada ao mesmo tempo, começa milhões de projetos e não termina nenhum. É para aquele que se cobra demais e se frustra demais não porque é perfeccionista, mas porque é muito sensível e sabe que falha porque não consegue se concentrar. TDAH é algo a ser investigado. Há que se ouvir relatos de mãe, pai, professor, fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional. É um diagnóstico que leva tempo, pois não se prescrevem medicamentos para uma suspeita. Receitar medicamento e querer que se receite para controlar a outrem, além de me revoltar, é covardia. Como se fosse fácil assim, né?

Uso a ritalina desde maio de 2011 e repito: foi libertador saber que eu poderia ser normal. E nunca fui doida! Tarja preta não tem nada a ver com isso!

Suponhamos que para o seu filho ou uma pessoa muito próxima de você ou para você mesmo foi fechado o diagnóstico de TDAH. Vamos lá. Se você está com medo de iniciar o uso por causa de efeitos colaterais, vou explicar como funciona.

1. O começo do efeito do medicamento é parecido com aquele incômodo lá dentro da cabeça que você sente quando acaba de subir um morro íngreme. Ou, para quem já esteve na Cordilheira, é aquela sensação do soroche. Dura DOIS segundos e passa.

2. A ritalina NÃO deixa a pessoa chapada, tampouco retardada ou burra. A criatividade continua fluindo naturalmente. Talvez até mais! ^^

3. A ritalina NÃO dá sono. A única coisa que ela faz é me concentrar. Estando concentrada, automaticamente me acalmo.

4. Nas duas primeiras semanas, eu perdi um pouco o apetite. Emagreci três quilos porque passei a comer menos. Importante: NUNCA tomar ritalina sem ter feito uma refeição antes, pois pode dar dor de estômago. Eu tomo duas de 10 mg cada, uma após o café da manhã e outra após o almoço. Agora já engordei dois quilos de novo, pois voltei a comer o normal que sempre comi. A diferença é que hoje, por não estar tão agitada mais, não passo o dia mastigando, como em hora certa e continuo magra. Vale a pena consultar um nutricionista se você quiser aproveitar o ensejo para se reeducar na alimentação.

5. Quando o efeito de um comprimido passa, após cerca de cinco horas, sinto um sono danado. Abro boca durante uma meia hora, ihih. Mas à noite eu durmo feito um anjo, pois agora tenho hora para tudo. Não só passei a dormir mais horas, como a qualidade delas melhorou consideravelmente. Cada pessoa encontra o seu ritmo, eu preciso de sete horas e meia. Vai de cada um.

6. Parei de beber álcool e de tomar café indiscriminadamente. O álcool, num primeiro momento, é estimulante do Sistema Nervoso Central. A cafeína idem. Depois da ritalina não senti falta deles mais.

7. Minha tricotilomania diminuiu para 5% do que era.

Então é isso. Pelo menos é assim que a ritalina age no meu organismo, mas as reações são individuais. Não tome quaisquer medicamentos sem conhecimento do seu médico e, se tiver algum problema, como dor de cabeça, enjoos, convulsões, dentre outros, comunique imediatamente a ele, para ajuste de dose ou troca do medicamento. O importante é que você se sinta bem. E, definitivamente, FELIZ.

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'Tá me desafiando, é?

Cada vez que vou me recordando de uma história, agora consigo fazer a associação entre o ocorrido e algum sintoma do TDAH. Incrivelmente não sei até hoje como estou viva, talvez eu tenha transtorno opositor e nunca tenha observado.

No dia em que a minha gerente me chamou para fazer parte da equipe dela, perguntei, à queima-roupa, com a cara mais satisfeita do mundo: “a senhora está me desafiando?”, ou seja, “está me propondo algo que eu tenha que superar?” Ela disse que sim, e então respondi: “eu topo.”

Bom, este pelo menos foi um desafio positivo. Como já tinha comentado aqui antes, eu era muito movida a desafios. Sempre buscava algo que me desse uma recompensa imediata, de forma que acabava por provar que era boa naquilo. Mas também isso tinha um preço altíssimo: se eu não conseguisse, a frustração que tomava conta de mim era tão grande que eu me achava uma inútil, e até mesmo uma fraude (conf. @anabeatrizpsi, em “Mentes Inquietas”. Aquela estudante de fonoaudiologia do primeiro capítulo era eu, só pode!).

Outra vez em que o desafio foi positivo foi quando fiz vestibular. Vou lá ver qual é a desse “cara” de que as pessoas têm tanto medo. Acreditem, passei de primeira, sem cursinho, na UFMG, a universidade mais difícil de entrar que tem aqui em Minas. Estava até conversando com uma amiga estes dias: ela me contou que está trabalhando com crianças TDAH e quase caiu para trás quando lhe contei que eu também era e agora estava fazendo uso da medicação. Ela não acreditou, pois como eu consegui ser cefetiana e depois ir para a UFMG assim?

Fato é que a minha estratégia de aprendizagem sempre se baseou em dois princípios: memória e desafio. Memória (cognição, para ser mais exata) porque retenho facilmente o que me é ensinado, basta que me expliquem uma única vez – e assim sobra(va) mais tempo para fazer bagunça. Desafio porque, se alguém dissesse que eu era incapaz de algo, eu ia lá e fazia só de raiva. Minha mãe, coitada, sem querer acabou alimentando isso, às vezes acho que foi positivo, porque os muitos elogios e o estímulo para seguir em frente foram fundamentais; em compensação, fiquei movida a eles e foi meio chocante descobrir que o mundo não era igual à minha mãe. Não parei em diversos empregos e pensei várias vezes em desistir dos cursos que comecei. E de alguns eu desisti mesmo por sentir que não iria conseguir fazer nada direito, e outros porque não achava o respaldo positivo que minha mãe aplicava comigo.

Ah, mas teve um episódio em que desafiar alguém quase resultou na minha morte. Nunca fui de sofrer calada nem de levar desaforo para casa. Aí comprava briga, claro.

Em 2005, eu namorava um rapaz gordinho (adoro, viu, haha), e estávamos numa lanchonete no bairro Funcionários. Sentou-se na mesa ao nosso lado um rapaz conhecido na noite de BH, não sei filho de quem é, mas ele se acha! De vez em quando topo com ele por aí, porém finjo que não vejo e sigo meu caminho. Bom, esse rapaz se sentou ali e começou a falar sozinho, baixo, e foi aumentando o volume da voz, até que culminou na seguinte frase: “tem que acabar com esses gordos, essa geração nojenta que come toda a comida do mundo!” Bati na mesa já tirando satisfação: “O que foi que você disse?” Detalhe: eu, metro e meio; o cara, uns dois metros. Sabe pinscher metido a pitbull? Pois é...

Aí foi uma sequência de gritos e bate-boca, meu namorado se interpôs entre mim e o cara para impedir que ele me batesse. Só que não aconteceu nada, o cara estava tão drogado que, ao tentar se equilibrar, caiu sobre uma cadeira, no que foi prontamente ajudado pelo meu namorado mesmo. Do nada, surgiu um outro sujeito, não sei de onde, que já chegou defendendo o cara e querendo me bater, me dando empurrões. E eu gritava: “tira a mão de mim!” E falei ainda que ele não era de nada. Ele só devolveu o desafio: “ah, é?” Saiu da loja e foi até o carro, em que estavam três crianças. Arrancou o veículo, do qual tive tempo de anotar a placa, e saiu em disparada. Pensei: “fodeu! Agora ele vai voltar com uma arma!” Saímos da loja voando e não voltamos mais lá tão cedo. Aliás, nunca mais voltei lá.

Vinte minutos depois, ligamos para a loja, que é de um conhecido nosso, para saber se o cara tinha retornado. Sim, ele retornou. De arma em punho, sem as crianças e babando feito um cão bravo, perguntando por nós dois.

Tive a curiosidade de pesquisar depois de quem era o carro. Pertencia ao Consulado da Índia. Mas de diplomata o cara que o estava dirigindo não tinha absolutamente nada.

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A ficha caiu

...ou “tudo o que você queria dizer para o seu chefe e 'tá sem coragem.”

Chorei a tarde inteira de ódio de mim mesma. Retornei ao psiquatra semana passada e expliquei-lhe que agora sim entendo por que as pessoas que iniciam um tratamento medicamentoso devem fazer terapia: a ficha uma hora cai. É muito chocante defrontar-se com as merdas que você fazia antes e agora se vê obrigado a consertar tudo e sofrer, por causa disso, um puta preconceito. Então aqui vai uma forma de protesto, tudo o que eu queria dizer à minha gerente e não vou dizer. Nem é questão de ter coragem, porque saber que eu sofro(ia) de TDAH ela sabe, mas é porque não foi ela que mandou cortar minha internet, e sim minhas próprias colegas de departamento. Então elas que peçam de volta. Ah, leiam que vocês vão entender.

“Querida chefe,

Como é de seu conhecimento, sou portadora do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. É reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados, e ocorre em 3 a 5% das crianças em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.

O portador de TDAH tem dificuldade para realizar sozinho suas tarefas, principalmente quando são muitas, e o tempo todo precisa ser lembrado pelos outros sobre o que tem para fazer. Isso tudo pode causar problemas na faculdade, no trabalho ou nos relacionamentos com outras pessoas. A persistência nas tarefas também pode ser difícil para o portador de TDAH, que frequentemente “deixa as coisas pela metade”. Muito inquieto, comete muitos erros em atividades que exigem concentração; é desorganizado, inconstante, desastrado, impaciente, não cumpre compromissos, perde prazos, se distrai facilmente, não fica parado, toma decisões precipitadas, tem dificuldade para manter relacionamentos e perde o interesse rapidamente. Por causa disso, desenvolvem uma intolerância grande à crítica e ficam deprimidos por não conseguirem cumprir suas tarefas. Foi o que ocorreu comigo em março deste ano: ficava entristecida e não conseguia conversar com ninguém. Não tive ânimo para comemorar meu aniversário, coisa que sempre gostei de fazer. E isso não tinha absolutamente nada a ver com amigos virtuais, já que igualmente não conversava com eles. Era algo interno, uma tristeza enorme e uma tamanha sensação de 'eu sou uma inútil' que só quem vive é capaz de entender. Aliado ao preconceito que sofro aqui, o TDAH é algo devastador na vida de uma pessoa: quem não tem não entende, acha que a pessoa é assim porque quer.

Cheguei a um ponto em que estive à beira da loucura e, conforme sugestão desta própria gerência na reunião com o departamento realizada em 26 de março, procurei o auxílio de um psiquiatra, com o qual estou em tratamento desde o dia 12 de maio. A propósito, nesta humilhante reunião inclusive me foi imposta a pena de ficar dois meses sem internet por causa de uma das comorbidades relacionadas ao TDAH, que é justamente a labilidade emocional.

Participei de uma feira fora de Minas Gerais nos dias 18 a 20 de maio, já utilizando a medicação, e foi visível a melhora do meu desempenho no trabalho. A senhora me elogiou. Minhas coisas estão em dia, minha mesa limpa e minhas anotações organizadas. Hoje em dia, quando a senhora vem com o milho, eu já estou com a polenta pronta há muito tempo. Não há nenhum cliente que se queixe comigo de que eu demorei para dar uma resposta.

No entanto, atualmente, é constrangedor e infantil interromper minhas colegas de trabalho para utilizar seus computadores quando preciso de uma informação rápida, especialmente se estou com um cliente ao telefone. O antivírus do meu computador não foi mais atualizado pelo fato de não haver espécie alguma de conexão à rede. Isto quer dizer que, se colocarem um pen drive infectado no meu computador, poderá ser disseminado, sem intenção, algum um vírus por meio da rede interna da empresa. Também já deixei de receber correspondências eletrônicas de inúmeros clientes, pois o filtro de spam do nosso sistema é um tanto quanto seletivo com o que não deveria. Perco contatos e respostas por não conseguir checar essas informações no webmail, pois, para tentar resgatá-las, devo acessá-lo e não tenho como fazê-lo, já que não possuo acesso à internet na minha estação de trabalho. Os softwares que necessitam de atualização estão defasados desde março. Ademais, o prazo de me deixar dois meses sem internet venceu em 26 de maio, ou seja, estou ainda sob o jugo de algo passado, sendo condenada por coisas que hoje já não fazem diferença, tampouco sentido, e que já consegui superar.

Não pretendo, contudo, despertar piedade nas pessoas, sobretudo na senhora. Por mim, uma pessoa que trabalha e a quem agrada tanto o conhecimento, pena é o último sentimento que gostaria que tivessem. Apenas apresento a informação, de forma que esse conhecimento possa ser útil não somente no fornecimento de ferramentas para a execução correta do meu trabalho, mas que possa servir para identificar e auxiliar outros que porventura estejam passando por problema semelhante.

Portanto, peço gentilmente que seja religada minha conexão à internet, de forma que, com o uso correto da informação e aproveitando meus conhecimentos, eu possa contribuir ainda mais para o contínuo crescimento – que sei que ajudei a construir – desta empresa, ampliando os nossos contatos e horizontes de atuação."

Fontes:

http://www.tdah.org.br/index.php?option=com_k2&view=item&layout=item&id=11&Itemid=116&lang=br
http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/quadro-clinico.html
http://www.tdahi.com.br
http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_do_d%C3%A9ficit_de_aten%C3%A7%C3%A3o_com_hiperatividade

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Faxina na alma

Vou ter que começar este post no mesmo esquema do post anterior. ^^

Sequência sem ritalina

- Acordo cedo no sábado de manhã;
- Quero estudar flauta e preciso procurá-la porque não me lembro onde pus;
- Abro a parte de baixo do armário e (re)descubro uma zona;
- Me disponho a arrumar tudo até achar a flauta;
- Encontro um livro interessante e começo a ler;
- Venho para a sala e ligo o computador;
- Começo a arrumar algo para comer;
- O quarto aquela zona e eu no computador;
- Encontro outro livro interessante;
- O dia acaba e eu comi mal, não arrumei o quarto e não consegui fazer nada do que eu tinha planejado no computador.

Sequência com ritalina

- Acordo cedo no sábado de manhã;
- Quero estudar flauta e preciso procurá-la porque não me lembro onde pus;
- Abro a parte de baixo do armário e (re)descubro uma zona;
- Me disponho a arrumar tudo até achar a flauta...

A partir daí o que aconteceu foi mágico. Tou com uma p*ta dor nas costas por ter ficado sentada no chão sem apoio por horas. E o que eu fiz não foi só uma faxina geral nos meus papéis. Foi na alma. Há muito tempo eu tinha falado que iria promover essa faxina, sabe? Precisamente no início de 2009. Disse para mim mesma que iria eliminar qualquer coisa ou pessoa que me puxasse para baixo, e acho que agora eu consegui concluir a tarefa. Despejei toda a papelada no quarto inteiro e nesse momento só fui separando as coisas por "presta" e "não presta". Tirei de lá dois sacos de 100 litros de coisas desnecessárias que fui entulhando durante quinze anos.

Fotografias... Tinha gente que eu nem lembrava quem era. Joguei fora. Tinha gente que eu sabia muito bem quem era. Justamente por isso joguei fora também, haha. Pior que encontrar fotografia de um ex, pedaço de papel que você jurava que tinha jogado fora, é encontrar uma declaração de "amor" de outro, o sujeito mais ciumento da face da terra. Mas este capítulo eu vou deixar para contar em outro post, é bem interessante. Enfim, eu ri muito foi da  minha própria reação, ainda na época. Como está escrita na capa de um caderno meu da Aviação, não podia jogar o caderno fora, tampouco arrancar-lhe a capa. Dei um risco com canetão preto e escrevi: "Ex bom é ex morto!" 

Também encontrei fotos da minha ida ao Xuxa Park em 1996, minhas férias em Grão Mogol (MG) em 2002, meu encontro com o Guilherme Arantes em 1999, minha formatura em 2004. Caramba, foi tão legal encontrar isso! Uma visita ao meu passado de coisas boas, até me emocionei! 

Contra-cheques, extratos, contratos... estava ali todo o meu histórico financeiro. Espalhado, mas estava. Finalmente consegui descobrir quanto eu ganho - acreditem, eu não sabia porque nunca consegui processar a lógica do contra-cheque, embora ele seja bem simples de entender - e agora posso fazer um controle. Os extratos bancários e comprovantes guardados por cinco anos, como manda o figurino. Um monte de fatura de cartão de crédito que eu não sabia onde tinha metido. Toda enrolada em dívidas, precisando pagá-las e sem saber por onde começar, gastava sem ver. Aliás, a dívida é um negócio bem TDAH: quando você contrai uma e parcela em 12 vezes, na terceira prestação você já perdeu a paciência, o controle e o boleto para pagá-la. E tome-lhe juros. Aí a faxina de alma: achei tudo o que era necessário e montei uma planilha no Excel que calcula tudo com os juros que hei de pagar no próximo mês. Agora eu consigo me planejar!!!!

Mas o que mais me emocionou foi rever minhas lembranças da Fonoaudiologia e da caligrafia. Convites antigos, formaturas e casamentos de amigos, primos, irmãos. Não pretendo voltar a clinicar, mas foi tão gostoso recordar a época da faculdade, com saudade e às vezes com vontade de dar na minha cara porque não conseguia honrar um ou outro compromisso (perdoem-me, meninas. A culpa não era minha meeeesmo!).

As tintas, os pincéis, as penas... As cores sempre regeram meu mundo. Eu sou bem sensível à arte, adoro uma exposição, um museu, um concerto. Fui a Cataguases (MG) em agosto de 2008 dar um curso de agendas artesanais - ser TDAH tem uma parte boa, que é aprender e dominar rapidamente técnicas de que até Deus duvida - e estavam lá os esqueletos das agendas, o resto do material, as cópias das apostilas, o certificado, os cartões lindos que minha amiga Elisa, promotora do curso, me deu.

Tenho uma coleção de passagens e etiquetas de bagagem, a única coisa na vida que consegui colecionar. Guardo todas dos lugares aonde vou. São aéreas e rodoviárias. Vivo em trânsito, alma inquieta que sou. Tem de São Paulo a Manaus, de Bauru a Guarapari, de Santiago do Chile a Cusco, de Formiga a Curitiba. Encontrar a outra parte da coleção, que também estava espalhada, me fez criar uma caixa só de coisa boa: não só as passagens e as etiquetas foram para ela, mas também os fôlderes, os mapas, os ingressos de shows a que fui. Nossa, quanta coisa boa eu revivi!

E a faxina que eu achei a mais importante: a dos cartões de visita e contatos. Tinha cartão de tudo quanto era tipo de serviço, dispensei alguns e guardei outros na minha agenda do ano passado (também não sabia usar agenda). Anotei os importantes e dispensei também os clássicos guardanapos com telefone. Encontrei também a lista de pessoas que convidei para a minha formatura. TDAH é foda. Fui relendo essa lista e vendo quanto lixo passou pela minha vida. Quantas pessoas convidei só para calar-lhes a boca... Transtorno opositor? Talvez. Eu era muito movida a desafios. Meu mal era querer provar que era boa. Agora estou igual ao Renato Russo: "...quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém." 

A flauta? Não achei. Mas consegui terminar a faxina.

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Libertadores não é só um torneio. Libertadores são certos diagnósticos

Eu falei que não iria decidir nada da minha vida enquanto não fosse ao médico e acabasse definitivamente com o problema. Pois bem, fui lá e o Dr. Márcio me prescreveu ritalina. Já no primeiro dia eu senti o efeito, observem a diferença:

Sequência sem ritalina

- Cliente chamou e pedi para aguardar;
- Estava sentada no computador fazendo relatório;
- Interrompo o relatório no meio e me levanto para atender ao cliente;
- Encontro uma pessoa no meio do caminho que me pede uma informação que estava num arquivo;
- Pego a informação e anoto para a pessoa;
- Volto para o computador e continuo o relatório;
- Esqueço que o cliente está lá fora;
- A recepcionista me chama de novo.

Sequência com ritalina

- Cliente chamou e pedi para aguardar;
- Estava sentada no computador fazendo relatório;
- Termino o relatório;
- Me levanto para atender ao cliente;
- Encontro uma pessoa no meio do caminho que me pede uma informação que estava num arquivo;
- Pego a informação e anoto para a pessoa;
- Vou atender ao cliente lá fora.

Isso foi meu primeiro dia usando ritalina! Eu mal conseguia acreditar que eu dei sequência em tudo o que comecei. Despachei todos os relatórios que tinham para ser despachados, consegui pôr ordem nas coisas e agora vocês vão até rir... fiquei trabalhando uma hora a mais! Mas essa hora besta foi necessária porque eu estava preparando um material para representar o Estado de Minas Gerais numa feira, nada de euforia ou "workaholicices". 

Ainda não completei uma semana de uso da ritalina e já me sinto uma pessoa normal. Era meu sonho ser normal. Vou dar outro exemplo, o terceiro dia com a dona Rita:

Sequência sem ritalina

- Chefe recebeu doze pedidos de orçamento;
- Só tem eu para fazer;
- Ela senta-se ao meu lado e começa a ditar e verificar tudo o que estou escrevendo;
- Eu começo a ficar nervosa;
- Mais de dez minutos na frente do computador sem me levantar ou esticar é pedir para morrer;
- Vinte minutos eu já estou chorando;
- Não consigo terminar nem quatro dos doze orçamentos e ainda brigo com ela.

Sequência com ritalina

- Chefe recebeu doze pedidos de orçamento;
- Só tem eu para fazer;
- Ela senta-se ao meu lado e começa a ditar e verificar tudo o que estou escrevendo;
- Monto os orçamentos na ordem e envio um de cada vez;
- Três horas se passaram e eu nem vi;
- Terminei todos os orçamentos e ainda fechamos alguns negócios;
- Ganhei parabéns pelo meu desempenho! \o/

Isso sem contar a minha vida pessoal. Eu consigo escutar tudo o que o namorado diz sem viajar na maionese, sem me distrair e depois ficar perguntando "o que você disse mesmo?". Hoje o que faço com ele é uma espécie de debriefing: pergunto de novo para me certificar de que entendi corretamente tudo o que ele está me contando. Perdi o medo de perguntar as coisas. Perdi o medo de amar. Estou almoçando devagar, mastigando, e não engolindo a comida para sobrar "mais tempo para fazer bagunça". Estou falando mais devagar. E a Rita não me dá sono, não me deixa tapada e também não me deixa acelerada. Tudo o que ela faz é me concentrar.

Olha, no twitter comentei outro dia que libertadores não é só um torneio, mas sim certos diagnósticos. E é verdade. Eu precisava me libertar dessa tortura que é ser inteligente e não conseguir aproveitar tamanho potencial. Me descobri uma grande negociante! E quer saber? Estou em idade de construir a carreira, e o déficit de atenção não vai mais me sacanear, escrevam.

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O TDAH e o bullying

O déficit de atenção é uma merda e que dificulta em muito a minha vida. Povo acha bonito, tá na moda, agora tudo é explicado pelo TDAH, e vem ainda essa porcaria de bullying para tornar tudo ainda mais chato e politicamente correto.


No meu tempo, a gente reagia ao bullying. Por ser TDAH com uma inteligência acima da média, era considerada um tanto doida (alguns graças a Deus me enxergavam como alguém à frente do seu tempo), porém por ser pequena e ao mesmo tempo muito sensível às críticas e aos apelidos arrumava briga fácil. Era praticamente a Mônica do Maurício de Sousa: baixinha, dentuça e briguenta - minha paciência sempre foi zero. Fora o meu nome, né, Glaucia, que, além de ser um nome pouco comum, levava ao diminutivo Glaucinha e, por conseguinte, ao foneticamente semelhante “Calcinha”. Para piorar a situação, o hit do verão em 1987 tinha sido “Kátia Flávia”, do Fausto Fawcett, que falava ao telefone que estava usando o quê? “Calcinha!!” Ave Maria! Sinto arrepios ao ouvir esta música até hoje.

Não me esqueço de um episódio lá pelos idos desse ano: estávamos todos em fila, todas as séries no pátio, uma daquelas famigeradas sextas-feiras de hino nacional na escola. No palanque, a diretora, a orientadora e algumas professoras, duas ao lado da bandeira, prontas para içá-la.

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante...”

Eu era sempre a primeira da fila, né, devido à minha estatura de salva-vidas de aquário. Uma menina, que tinha o péssimo hábito de ficar me amolando por causa dessa merda dessa música, queria me estressar, mas não podia fazer muita coisa na hora do hino. E eu já tinha avisado à professora que a qualquer hora eu iria perder as estribeiras e dar-lhe na cara, pois já estava até o tucupi com essa menina. Ela saiu lá de trás – era uma das últimas da fila – e foi lá na frente me encher.

“...Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar com braço forte
Em teu seio,ó liberdade,desafia o nosso peito a própria morte.”

E lá foi a menina desafiar a morte mesmo. Chegou ao meu ouvido e falou assim:

- Ô, Calcinha, olha como é que o sinal está agora!

Dizendo isso, pôs as mãos em concha e gritou no meu ouvido imitando o sinal do recreio. Eu nem olhei pro lado: só virei a mão nela ali mesmo e ela deve ter voado a uns dois metros de distância. A gravação do maestro Alberto Nepomuceno continuou rolando sozinha enquanto a escola inteira olhava para a praga da menina estendida, já me condenando pelo feito.

Obviamente fui parar na sala da orientadora. Devidamente acompanhada pela professora, que eu acho que devia ser advogada, porque ela me defendia com força, entrei de cabeça erguida e sem um pingo de arrependimento. A orientadora lá, olhando consternada para a menina chorando e eu lá com aquele ar blasé. Aí perguntou a ela o que aconteceu, e ela é claro que deu sua versão, dizendo que eu era violenta e que batia nos outros à toa. A professora interveio e disse que essa menina me perturbava há muito tempo e, como estava lá na frente, havia testemunhado o grito que ela tinha dado no meu ouvido.

Problema resolvido, quem assinou a ocorrência foi a garota.

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Do futebol, cinema e a camisa rosa (e que não tem nada a ver com Atlético!)

Já faz uns vinte dias que estou literalmente numa crise. Antigamente eu era mais jovem (óbvio) e tinha menos coisa pra fazer. Agora tou ficando mais velha, adquirindo mais responsabilidades e, confesso, estou ficando louca. Não que eu não goste do que eu faço, mas não consigo estabelecer uma ordem para fazer as coisas e estou me sentindo mal. Uma inútil.

[Para escrever este parágrafo interrompi a atividade de diagramação de um relatório que estava fazendo para a minha chefe. Voltei a escrever após ter lixado as unhas e lido um parágrafo de "O zelador de almas", livro excelente, depois recomendo direito. Voltei ao relatório, fechei o Gmail e estou escrevendo aqui de novo.]

Não se tem TDAH. Se é TDAH e se sofre o TDAH. É uma...

[Voltei para o relatório dez segundos. Levantei e fui tomar café.]

...uma o quê, mesmo?

Ah, não importa. Fato é que eu estou me sentindo mal porque não estou conseguindo honrar com meus compromissos. A prova cabal de que TDAH é o cara que marca duzentos compromissos para o mesmo horário e depois se vê em bundas para cumprir com todos eles sou eu. Fiquei de ir com uma turma para Divinópolis ver o jogo do América (sim, a torcida do América existe, viu?) x Guarani, ao mesmo tempo em que tinha ensaio do coral em Belo Horizonte. Resultado: fui ao jogo de vôlei do Sada/Cruzeiro em Contagem. Esqueci completamente os outros dois.

[Interrompi de novo porque me lembrei que um cliente me pediu um e-mail.]

Ontem eu escrevi um e-mail para o maestro, me desculpando com ele e dizendo que prefiro não fazer as coisas a fazê-las mal feitas. Não vou participar dos ensaios este ano, já que furei uma vez e fiquei morrendo de vergonha por simplesmente ter atropelado os compromissos e não conseguir cumprir nenhum. O @AlmaFrenetica, lá no Twitter, falou um negócio muito certo: vocês não têm ideia da devastação que isso causa na vida de uma pessoa.

Tem hora que eu me sinto um gênio incompreendido: lembram quando eu comecei a estudar espanhol? Fiquei fluente em oito meses! E a prática p'ra valer foi encarar o Chile. Deu certo, ninguém falava que eu era brasileira, tirei até o sotaque da língua portuguesa. Sou inteligente p'ra caramba, sem falsa modéstia, mas de que adianta isso tudo se não consigo usar o cérebro direito? Por isso que eu 'tou pobre e a pé até hoje! Daí que eu tenho milhares de ideias, sou uma empreendedora nata, mas não tenho dinheiro - e nem concentração - suficiente para investir em nada do que imagino. E tome-lhe cobrança, porque já escutei de um cara uma vez que se ele tivesse meu cérebro estaria rico, e que eu continuo pobre porque quero.

Mudando de assunto, eu sou americana, né, acho que já falei isso aqui. Falei sim, lá na oração do TDAH. Naquele dia eu tinha acabado de vir do Mineirão, América 2 x 3 Cruzeiro. Meu time perdeu, caiu uma p*ta chuva de granizo, mas fui feliz para casa porque descobri que tenho um prazer imenso em ir ao estádio não só porque não consigo ouvir jogo pelo rádio (nem pela televisão!), mas sim porque posso correr de um lado para outro na arquibancada para dispender energia. Além, claro, de cantar muito o hino do time e de morrer de rir com o mascote Coelhão, que naquele dia chutava e nadava nas poças de lama que se formaram com a chuva.

Aí nessa de futebol, me lembro das aulas de educação física do ensino fundamental. Eu era super requisitada para os exercícios de matemática, né? Sempre tive facilidade com exatas, mas na hora de jogar, quem disse que alguém me queria no time? Boa brasileira que sou, adoro o esporte, sei o que é impedimento, haha, mas por ter um problema danado de lateralidade nunca consegui jogar direito, não conseguia decidir com que perna chutar, com que força chutar e sempre mandava para fora do gol ou direitinho na mão da goleira - ou do goleiro, eu era um perfeito pivete quando criança. Um completo desastre. O mais incrível é que consegui tirar carteira de motorista, mesmo confundindo até hoje direita e esquerda.

Foi no jogo de vôlei do Sada/Cruzeiro de sábado que eu fui prestar atenção em qual era o meu problema com o futebol além da lateralidade. O TDAH nunca me permitiu acompanhar uma partida inteira do esporte nos gramados. Como eu nunca consegui acompanhar, eu não tinha time. Com sete anos, eu não sabia sequer o que significavam as palavras "Cruzeiro" e "Atlético", tive que perguntar à minha mãe, depois de responder muito "sei lá" aos meus colegas de escola. Claro que depois eu até dizia que era um ou outro, mas sempre sabendo já o time do interlocutor, para não dar briga, já que presenciei algumas vezes embates homéricos entre vizinhos doidos por futebol. Nunca me identifiquei nem com um e nem com o outro. Sei lá. Não me chamavam a atenção.

Justamente por não gostar de briga é que foi só com dezesseis anos que eu me identifiquei com o Ameriquinha, vi sua ascensão à série A do campeonato brasileiro de 1997 e hoje em dia 'tá lá declarada no meu Twitter a minha paixão alviverde. Ir para o meio da Avacoelhada e berrar "Coeeeeelhooooooo" por noventa minutos não tem preço! Detalhe: minha família inteira é cruzeirense apaixonada, como bons italianos que são, já acompanhei várias vezes os jogos do Cruzeiro com eles e isso justifica o fato de eu ter ido ao jogo de vôlei. Fui a convite das minhas lindas e amadas irmãs @trenchique e @GiuliaPiazzi. Ainda assim, para eu conseguir assistir a um jogo inteiro é muito sacrifício. Ficar diante da televisão por mais de dez minutos é pedir pra morrer, ainda que o jogo esteja emocionante e o Ameriquinha esteja fazendo algo bacana como um 2 x 1 de virada em cima do Atlético (tinha que comentar, não podia deixar passar!). Tuitei o jogo inteiro.

Aí quando eu me lembrei que tinha combinado de ir a Divinópolis, estava em cima da hora, já estava saindo de casa para o ginásio, ficou tarde e a única coisa que eu pude fazer foi acompanhar o jogo pelo celular. Levei minha bandeira do Coelho, óbvio, e pus o @PCAlmeida, notório cruzeirense do qual sou muito fã, para acompanhar o jogo para mim e me mandar mensagem a cada gol. Era justo, né, afinal eu 'tava vendo jogo do time dele, ahah! =D E a cada gol do Mequinha eu agitei minha bandeira. América 4 x 2 Guarani de Divinópolis.

Aonde eu queria chegar com essa história toda: torcida de vôlei é completamente diferente da de futebol. E o lugar também. Não dá para correr nas arquibancadas como no futebol e, se não fossem as paradas técnicas para minhas irmãs e eu fazermos bagunça, na metade do segundo set eu já teria ficado louca, apesar de amar vôlei também. Torci para aquele jogo terminar logo em 3 x 0 - e terminou mesmo, bonita vitória em cima do Soya/Blumenau/Martplus (o nome é puro patrocínio, né? ahaha). Então percebi porque demorei para me identificar com um time e também nessa descobri porque não gosto de cinema: não consigo acompanhar, me perco e me sinto a maior burra quando não percebo o segredo. Isso mesmo, não saquei "O Sexto Sentido" enquanto o filme não terminou. Idem para "O Código da Vinci". Só consegui ver o primeiro filme da saga "O Senhor dos Anéis": era tanto personagem que eu simplesmente dormi no cinema, mesmo com o @VilasBoasMSC me explicando boa parte do filme. Já "A Bruxa de Blair" eu não entendi mesmo. A última vez que fui ao cinema vi "O Bem Amado", por já ter lido o livro e adorar literatura brasileira. No mais, não lembro nome de filme.

[Já mudei o título deste post três vezes.]

Então pedi ajuda. O déficit de atenção 'tá cada hora pior. Marquei consulta com o Dr. Márcio Candiani. Enquanto isso, minhas irmãs e o PC têm me ajudado muito. Elas me ajudaram a fazer loucurinhas para passar o tempo, tipo fazer coreografias de arquibancada para eu não me estressar durante o jogo. O PC é um anjo, e me ajuda a acompanhar o futebol, saber quem é quem, comentar o assunto, analisar uma partida, ter prazer e não me estressar em ver um jogo inteiro. Acompanho o blog dele porque gosto muito do que ele escreve, mas comentar mesmo eu comento é lá no do @flavio1177, né?

No trabalho, então, nem se fala. Segunda-feira é meu dia de vir de verde. O América ganha, que lindo, mas eu continuo aérea. Tem hora que o povo fala as coisas comigo que eu tenho que pedir uma instrução de cada vez. Simplesmente não consigo dar sequência numa atividade e não consigo me concentrar no que me dizem. Não termino nada e não consigo prestar atenção em nada.

[Hiperfoco mode = on. Vários parágrafos sem interrupção.]

Mas a melhor do dia, e a que fecha este post, foi de hoje de manhã. Cheguei aqui no escritório e duas meninas estavam de camisa rosa. Eu estou de camisa lilás. Uma das gerentes vira para mim e diz: "ué, Glaucia, por que você está de lilás? O combinado hoje era rosa!" Aí eu pensei "pronto! Eu não escutei essa instrução, não pesquei a brincadeira e acabei estragando por causa do meu TDAH." Depois percebi que era um trote dela e que foi só coincidência as meninas estarem de rosa hoje. Mas eu quase morri, confesso.

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Nossa bobagem de cada dia:

A minha bobagem é sem ritalina mesmo, porque sóbria é mais gostoso de se fazer as coisas. Por isso resolvi começar o meu dia com uma oração.

“Pai nosso que está nos céu, meu pai não é piloto, ele é mecânico. Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino. Complicado isso, fica parecendo aquelas conquistas medievais, um rei invadindo o reino do outro, castelo, dragão, princesa... Onde eu estava mesmo? Ah, sim, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. É, piloto quando está em terra, fala de avião, quando está em vôo fala de mulher. Bobagem danada, gente. Eu queria a uma hora dessa estar em comando para ver na prática mesmo o nível de cruzeiro. Por isso que atleticano nunca é piloto, para não ter que se manter em nível de Cruzeiro. A propósito, o jogo do América foi ótimo, pena que o juiz tenha roubado tanto. Tadinho do Mequinha, tão injustiçado! Nossa, viajei. O pão nosso de cada dia nos dai hoje... Putz! Lembrei que tenho que pagar o seu Manoel da padaria! Ah, não faz mal, amanhã eu vou lá e aproveito para fazer a unha com a dona Judite. Só que os esmaltes dela estão ruins, vou sugerir comprar uns novos, tem umas cores bonitas que saíram estes dias, última moda. Ah... ahmmm... é... ta. Amém.”

Texto por Glaucia Piazzi

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