Faxina na alma
mai
29
Vou ter que começar este post no mesmo esquema do post anterior. ^^
Sequência sem ritalina
- Acordo cedo no sábado de manhã;
- Quero estudar flauta e preciso procurá-la porque não me lembro onde pus;
- Abro a parte de baixo do armário e (re)descubro uma zona;
- Me disponho a arrumar tudo até achar a flauta;
- Encontro um livro interessante e começo a ler;
- Venho para a sala e ligo o computador;
- Começo a arrumar algo para comer;
- O quarto aquela zona e eu no computador;
- Encontro outro livro interessante;
- O dia acaba e eu comi mal, não arrumei o quarto e não consegui fazer nada do que eu tinha planejado no computador.
Sequência com ritalina
- Acordo cedo no sábado de manhã;
- Quero estudar flauta e preciso procurá-la porque não me lembro onde pus;
- Abro a parte de baixo do armário e (re)descubro uma zona;
- Me disponho a arrumar tudo até achar a flauta...
A partir daí o que aconteceu foi mágico. Tou com uma p*ta dor nas costas por ter ficado sentada no chão sem apoio por horas. E o que eu fiz não foi só uma faxina geral nos meus papéis. Foi na alma. Há muito tempo eu tinha falado que iria promover essa faxina, sabe? Precisamente no início de 2009. Disse para mim mesma que iria eliminar qualquer coisa ou pessoa que me puxasse para baixo, e acho que agora eu consegui concluir a tarefa. Despejei toda a papelada no quarto inteiro e nesse momento só fui separando as coisas por "presta" e "não presta". Tirei de lá dois sacos de 100 litros de coisas desnecessárias que fui entulhando durante quinze anos.
Fotografias... Tinha gente que eu nem lembrava quem era. Joguei fora. Tinha gente que eu sabia muito bem quem era. Justamente por isso joguei fora também, haha. Pior que encontrar fotografia de um ex, pedaço de papel que você jurava que tinha jogado fora, é encontrar uma declaração de "amor" de outro, o sujeito mais ciumento da face da terra. Mas este capítulo eu vou deixar para contar em outro post, é bem interessante. Enfim, eu ri muito foi da minha própria reação, ainda na época. Como está escrita na capa de um caderno meu da Aviação, não podia jogar o caderno fora, tampouco arrancar-lhe a capa. Dei um risco com canetão preto e escrevi: "Ex bom é ex morto!"
Também encontrei fotos da minha ida ao Xuxa Park em 1996, minhas férias em Grão Mogol (MG) em 2002, meu encontro com o Guilherme Arantes em 1999, minha formatura em 2004. Caramba, foi tão legal encontrar isso! Uma visita ao meu passado de coisas boas, até me emocionei!
Contra-cheques, extratos, contratos... estava ali todo o meu histórico financeiro. Espalhado, mas estava. Finalmente consegui descobrir quanto eu ganho - acreditem, eu não sabia porque nunca consegui processar a lógica do contra-cheque, embora ele seja bem simples de entender - e agora posso fazer um controle. Os extratos bancários e comprovantes guardados por cinco anos, como manda o figurino. Um monte de fatura de cartão de crédito que eu não sabia onde tinha metido. Toda enrolada em dívidas, precisando pagá-las e sem saber por onde começar, gastava sem ver. Aliás, a dívida é um negócio bem TDAH: quando você contrai uma e parcela em 12 vezes, na terceira prestação você já perdeu a paciência, o controle e o boleto para pagá-la. E tome-lhe juros. Aí a faxina de alma: achei tudo o que era necessário e montei uma planilha no Excel que calcula tudo com os juros que hei de pagar no próximo mês. Agora eu consigo me planejar!!!!
Mas o que mais me emocionou foi rever minhas lembranças da Fonoaudiologia e da caligrafia. Convites antigos, formaturas e casamentos de amigos, primos, irmãos. Não pretendo voltar a clinicar, mas foi tão gostoso recordar a época da faculdade, com saudade e às vezes com vontade de dar na minha cara porque não conseguia honrar um ou outro compromisso (perdoem-me, meninas. A culpa não era minha meeeesmo!).
As tintas, os pincéis, as penas... As cores sempre regeram meu mundo. Eu sou bem sensível à arte, adoro uma exposição, um museu, um concerto. Fui a Cataguases (MG) em agosto de 2008 dar um curso de agendas artesanais - ser TDAH tem uma parte boa, que é aprender e dominar rapidamente técnicas de que até Deus duvida - e estavam lá os esqueletos das agendas, o resto do material, as cópias das apostilas, o certificado, os cartões lindos que minha amiga Elisa, promotora do curso, me deu.
Tenho uma coleção de passagens e etiquetas de bagagem, a única coisa na vida que consegui colecionar. Guardo todas dos lugares aonde vou. São aéreas e rodoviárias. Vivo em trânsito, alma inquieta que sou. Tem de São Paulo a Manaus, de Bauru a Guarapari, de Santiago do Chile a Cusco, de Formiga a Curitiba. Encontrar a outra parte da coleção, que também estava espalhada, me fez criar uma caixa só de coisa boa: não só as passagens e as etiquetas foram para ela, mas também os fôlderes, os mapas, os ingressos de shows a que fui. Nossa, quanta coisa boa eu revivi!
E a faxina que eu achei a mais importante: a dos cartões de visita e contatos. Tinha cartão de tudo quanto era tipo de serviço, dispensei alguns e guardei outros na minha agenda do ano passado (também não sabia usar agenda). Anotei os importantes e dispensei também os clássicos guardanapos com telefone. Encontrei também a lista de pessoas que convidei para a minha formatura. TDAH é foda. Fui relendo essa lista e vendo quanto lixo passou pela minha vida. Quantas pessoas convidei só para calar-lhes a boca... Transtorno opositor? Talvez. Eu era muito movida a desafios. Meu mal era querer provar que era boa. Agora estou igual ao Renato Russo: "...quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém."
A flauta? Não achei. Mas consegui terminar a faxina.
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